Revisão por pares
Artigos publicados em periódicos especializados são,
atualmente, o meio mais valorizado de comunicação científica. Isso porque os periódicos
apresentam mecanismos de validação do conhecimento produzido, contando com o
trabalho de pessoas altamente capacitadas em suas editorias e conselhos
científicos.
Antes de serem publicados, os manuscritos passam por
rigoroso processo de avaliação que, embora possa variar de periódico para
periódico, envolve algum tipo de revisão por pares, com a finalidade de selecionar
e aprimorar os artigos. Esse processo é considerado fundamental para o
desenvolvimento científico, colaborando para que o conhecimento publicizado
pelos periódicos esteja balizado por altos padrões de excelência e de integridade.
Rotineiramente, os editores de periódicos recorrem a pesquisadores experientes para realizarem essa atividade. Nesse contexto, esses pesquisadores são chamados de revisores, avaliadores ou pareceristas, termos que utilizarei como sinônimos neste texto.
O trabalho dos revisores
Embora crucial para o desenvolvimento da ciência na atualidade, o trabalho dos revisores é pouco valorizado.
Um pesquisador costuma avaliar diversos manuscritos por ano (sem
contar outros tipos de avaliações). Dificilmente será possível gastar menos de
meio dia nesta atividade. Contudo, o tempo despendido varia de acordo com
diversos fatores.
Artigos em ciências sociais, por exemplo, costumam ser mais
extensos que os de ciências naturais e, portanto, podem demandar mais tempo
para sua avaliação.
Outro fator que implica no tempo de realização do trabalho é
o cuidado e a dedicação do revisor, pois, um trabalho de avaliação bem-feito
implica em diversas leituras do texto, atenção aos detalhes e consultas à
bibliografia pertinente, além, é claro, da redação do parecer.
A remuneração dos revisores
Pouquíssimos periódicos conferem alguma remuneração pelo
serviço dos pareceristas. Há editoras que oferecem alguns de seus produtos como
forma de agradecimento pelo trabalho de revisão. Algumas instituições permitem que os
pesquisadores a elas ligados considerem algumas horas por semana em seu plano
de trabalho relativas à atividade de revisão. Porém, esse é um trabalho
realizado majoritariamente de forma voluntária.
Ou seja, o trabalho de revisão, em geral, não é uma fonte de
renda para o pesquisador.
Desafios contemporâneos ao trabalho dos revisores
A cultura
produtivista, que atualmente impera nos ambientes acadêmicos, tem provocado um
aumento considerável nas submissões, levando a um incremento significativo da
demanda por pareceristas.
Dessa maneira, os pesquisadores que atuam como revisores estão
sendo convidados seguidamente para avaliarem manuscritos submetidos a diferentes
periódicos. Além disso, convém lembrar que eles também são pesquisadores e precisam,
eles próprios, desenvolver suas pesquisas e publicar frequentemente, além de desenvolverem
inúmeras outras atividades, como: aulas, palestras, participações em eventos,
atividades de gestão, orientação etc. etc. etc.
Há também o desafio de tornar esse trabalho visível e reconhecido pelas instituições empregadoras e pelas agências de fomento e de regulação. Esse reconhecimento passa, necessariamente, por algum tipo de remuneração por esse trabalho.
Além disso, é necessário pensar em termos de formação do revisor,
ou seja, formas de desenvolvimento das habilidades necessárias para se avaliar
um manuscrito e redigir um parecer.
Outro aspecto de indubitável importância e urgência é a
preocupação com as questões éticas que envolvem o trabalho do revisor, como:
confidencialidade, conflitos de interesses, vieses preconceituosos, uso de
informações privilegiadas etc., que precisam ser debatidas, buscando-se práticas
que tornem o trabalho do revisor cada vez mais íntegro, confiável e construtivo
Por que alguém desejaria ser um revisor?
Sendo um trabalho voluntário e pouco valorizado no ambiente
acadêmico, por que um pesquisador se interessaria em realizar trabalhos de
revisão?
Bem, existem muitas razões, por exemplo:
• Reconhecimento
profissional. O fato de alguém ser convidado para dar um parecer sobre um manuscrito
significa que essa pessoa tem o respeito da comunidade acadêmica e é reconhecido
pelos editores como alguém competente em seu campo. Há, portanto, um reconhecimento
simbólico do trabalho do pesquisador e de suas contribuições.
• Pelo
desejo de colaborar com o desenvolvimento da ciência, com a sociedade em
geral, com determinadas instituições ou com colegas que necessitam de ajuda
para desenvolver esse trabalho.
• Para
garantir que os processos de avaliação ocorram e assim ter seus próprios
trabalhos avaliados.
• Para
somar pontos em processos seletivos e de progressão na carreira. Embora nem
sempre conte na avaliação do trabalho dos pesquisadores e, quando é considerado,
frequentemente é muito pouco valorizado, o trabalho de revisão pode adicionar
alguns pontos em certos processos seletivos e de progressão.
• Para
seu aperfeiçoamento. Ao revisar os trabalhos de outros, os pesquisadores se
mantêm atualizados em relação aos avanços em sua área de atuação e têm a oportunidade
de aprimoram suas habilidades de análise crítica e de redação científica.
• Para construir relações com os periódicos e editores.
Como se tornar um revisor de periódicos
São raros os programas de formação de pesquisadores que
consideram o desenvolvimento das habilidades requeridas para o trabalho de
revisor. Eventualmente o pesquisador pode, por seu próprio interesse, participar
de algum curso ou seminário sobre o tema. Porém, o mais comum é que essas
habilidades sejam desenvolvidas na prática, principalmente por meio da imitação
A formação do revisor costuma seguir a carreira
acadêmica. Assim, o estudante pode participar como pareceristas de trabalhos submetidos
a eventos locais, como a semana do curso, por exemplo. Mais tarde, pode se voluntariar
para avaliar trabalhos de eventos mais importantes. Na pós-graduação já é
possível se cadastrar como parecerista em periódicos menores e, conforme sua
carreira avança, pode vir a ser revisor de periódicos mais renomados. Em geral,
sua própria experiência como autor, ao ter seus trabalhos avaliados, serve como
parâmetro para sua atuação como parecerista.
Cada periódico tem seus processos de recrutamento e critérios
próprios para selecionar revisores.
Alguns lançam editais ou fazem chamadas em épocas
específicas, outros fazem convites diretos aos pesquisadores e há aqueles que
mantém seu sistema aberto para cadastro de voluntários.
As exigências também são diversas. Certos periódicos só
aceitam como revisores pesquisadores experientes, com publicações de alto
impacto. Outros exigem que os revisores sejam doutores na área de abrangência
do periódico, independentemente de suas publicações. Há ainda os que aceitam pós-graduandos.
Referências
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state of peer review. Filadelfia: Clarivate Analytics, 2018. Disponível em:
https://publons.com/static/Publons-Global-State-Of-Peer-Review-2018.pdf. Acesso
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RIGO,
Ariádne Scalfoni; VENTURA, Andréa Cardoso. Editorial: Por que e como nos
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Sociedade, v. 26, n. 89, p. 194-199,
abr./jun. 2019. Disponível em: https://www.scielo.br/j/osoc/a/ZzC5YqNm87zZJ3g9PKDRddP/?format=pdf&lang=pt.
Acesso em 12 maio 2024.
SAMPAIO, Maria Imaculada Cardoso; SABADINI, Aparecida
Angélica Zoqui Paulovic; KOLLER, Silvia Helena (org.). Produção científica:
um guia prático. São Paulo: Instituto de Psicologia da Universidade de São
Paulo, 2022. Disponível em: https://www.livrosabertos.abcd.usp.br/portaldelivrosUSP/catalog/book/925.
Acesso em: 12 maio 2024.
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