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5 exercícios para fortalecer sua escrita acadêmica

É comum que professores e orientadores ouçam de alunos e pesquisadores inciantes queixas sobre a dificuldade em escrever textos científicos e trabalhos acadêmicos em geral.
Uma dessas dificuldades costuma ser a falta de experiência na articulação suas próprias idéias (e palavras) com as das obras que dão sustentação ao trabalho.  Eu já havia abordado esse assunto em post anterior (Algumas sugestões para você que está fazendo seu TCC).
Então, aqui vão algumas sugestões de exercícios que você pode fazer para superar essa dificuldade e fortalecer sua escrita.
Um alerta: você sempre deve dar crédito para os autores que usar como referência (leia posts sobre plágio aqui e aqui). 

1- Nível dente de leite

Inicie seu treino fazendo paráfrases bem simples. 
O dicionário vai ser seu melhor amigo no desenvolvimento deste exercício.
Você pode começar substituindo alguns termos por sinônimos, mudar a forma como orações estão organizadas ou ainda reduzir ou ampliar uma oração (cuidado para não mudar o sentido do texto). 
Por exemplo:
a) uma andorinha só não faz verão.
a') para fazer verão, é necessário mais de uma andorinha 

2 - Nível iniciante

Agora você já tem condições de fazer paráfrases um pouco mais elaboradas, envolvendo um período maior. Por exemplo:
b) Segundo Vieira (2002, p. 14), "na verdade, embora como nas demais políticas políticas sociais, a política educacional envolva um amplo conjunto de agentes sociais, esta se expressa, sobretudo, por meio de iniciativas direta ou indiretamente promovidas pelo poder público e, portanto, o Estado é uma referência fundamental para a sua compreensão”.
b') Para Vieira (2002), as políticas educacionais, como as outras políticas sociais, abarcam diversos  agentes, porém, elas se expressam, principalmente, por meio de inciativas, sejam diretas ou indiretas, do poder público, de modo que o Estado é considerado uma referência fundamental para seu entendimento.  
Veja, o que proponho aqui é um mero exercício em direção a uma escrita mais autoral, não significa que eu considere a redação de b' ficou melhor que a de b, apenas que, no segundo caso, eu expresso um pouco mais de autoria que no primeiro. 

3 - Nível intermediário

Agora você vai avançar um pouco mais. Vai sair da segurança de parafrasear pequenos trechos e vai ousar fazer isso com partes maiores: tópicos inteiros de um artigo ou capítulo. Para isso você vai precisar: 
  • ler o texto todo.
  • depois, ler atenciosamente um trecho de bom tamanho (por exemplo, o tópico de introdução de um artigo). 
  • destacar as palavras que você considera fundamentais para o entendimento do tópico.
  • procurar o significado das palavras que você desconhece.
  • ler o trecho novamente.
  • fechar o material (o artigo, o livro ou o arquivo) - atenção: isso é muito importante para que você não caia na tentação de copiar palavras, expressões e frases do original.
  • pronto: agora reescreva o trecho usando suas próprias palavras (tá, tudo bem, pode usar algumas ou várias palavras original, sem problemas, não precisamos reinventar a roda, mas não copie, construa as frases você mesmo).   
Faça diversas séries deste exercício. Em pouco tempo você ficará com uma escrita bem definida. 

4 - Nível especialista

Muito bem, agora você ultrapassou o nível de amadorismo, então, prepare-se uma uma exigência maior.
Você deve fazer o exercício anterior até completar a leitura de todo o material (artigo, capítulo ou livro). Porém, com um grau a mais de dificuldade: você terá que condensar as ideias da obra. 
Ou seja, não se trata unicamente de reescrever o texto com suas palavras, mas, de fazer sínteses. 
Estabeleça metas, por exemplo: sintetizar em uma lauda um artigo de 20 páginas. 
Inclua as referências do texto original e guarde suas anotações,  pois, ao longo da construção de seu trabalho (TCC, dissertação, tese, artigo etc) você pode consultar e usar esse resumo (também conhecido como fichamento).

5 - Nível ninja

Uau! agora você vai arrasar!
Você vai pegar 2 ou mais obras que tratem do mesmo assunto, fazer o que foi descrito no nível anterior com todas e, depois, escrever um texto, articulando-as em torno de um argumento.
Veja esse exemplo que eu extraí da minha tese (CHAPANI, 2010, p. 30):
Bianchetti (2005) lembra que na América Latina as políticas sociais foram cultivadas mais propriamente no contexto de um Estado Assistencialista, enquanto Draibe (1993) entende que o 'caso brasileiro' pode ser estudado sob a ótica do Estado de Bem Estar Social. Ambos, no entanto, notam características no padrão de intervenção social do Estado em países latino-americanos, entre eles o Brasil, que se assemelham as de um Estado de Bem Estar Social. 
No momento da redação, você poderá contar com aliados fiéis: os elementos de ligação que indicam comparação, concordância, complementação ou oposição (concordando com, em oposição à/ao, assim como, diferentemente de, complementando, em adição, em analogia etc.). 
Se você quiser mesmo arrasar, experimente imprimir sua própria posição ao articular as ideias dos autores que você tomou como base para seu texto. 
Coloque em prática esse treino e você deixará sua escrita acadêmica em boa forma. 

Referências:

BIANCHETTI, R. G. Modelo neoliberal e políticas educacionais. 4ª ed. São Paulo: Cortez, 2005 (Coleção Questões da Nossa Época, v.56).
CHAPANI, D. T. Políticas públicas e histórias de formação de professores de ciências: uma análise a partir da teoria social de Habermas. Tese (doutorado). Programa de Pós-graduação em Educação para a Ciência. Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho". Bauru: Unesp, 2010.
DRAIBE, S. M. O welfare state no Brasil: características e perspectiva. Caderno de Pesquisa do NEPP, n.8, 1993.
VIEIRA, S. L. Políticas de formação em cenários de reforma. In: VEIGA, I. P. A.; AMARAL, A. L. (org). Formação de professores: políticas e debates. Campinas: Papirus, 2002. p. 13-45.

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