Em post anterior,
eu apresentei alguns problemas frequentes em artigos científicos,
responsáveis, muitas vezes pela recusa por parte dos periódicos. Naquela
ocasião, tratei mais dos erros formais, agora vou focar na questão da
redação. Dessa vez também vou me basear tanto em minha experiência
quanto em publicações sobre o assunto, as quais estão referenciadas ao
final do texto.
A primeira coisa a saber é que existem diversos estilos de escrita científica. Isso depende da área e dos propósitos do texto. Então, aqui, eu vou tratar da escrita de artigos no campo das ciências sociais, embora acredite que este post possa ser interesse geral.
Escrever é uma obrigação acadêmica, não tem como fugir. Uma fase importante da produção do conhecimento é a sua difusão, que pode ser entre os pares, isto é, para outros cientistas (comunicação científica), ou para a sociedade em geral (divulgação científica).
Atualmente, os pesquisadores usam diversos suportes para fazer a divulgação e até mesmo a comunicação científica. No entanto, a forma escrita ainda é predominante.
Apesar disso, as universidades dão pouca importância à preparação dos estudantes para a redação científica. Até mesmo na pós-graduação, são raros os cursos que apresentam uma disciplina ou uma atividade sistemática sobre o assunto (claro, sempre tem uma palestra sobre ABNT, mas, vamos combinar, isso é muito insuficiente).
Na sequência apresento quatro características de um bom artigo científico e algumas dicas para você chegar lá:
Mas, que fique claro, não estou afirmando que o artigo deve conter todos esses itens. Uma contribuição, mesmo que pequena, porém, interessante, está ok. Não espere ter aquela ideia genial, que vai revolucionar a ciência, para publicar. Pense na produção do conhecimento científico como uma vaquinha, com a qual cada um contribui com o que pode.
Porém, não se esqueça: para se produzir um bom artigo é necessário que a pesquisa que lhe deu origem tenha sido bem projetada e executada, incluindo aqui, os princípios éticos que devem permear todo o processo de produção do conhecimento.
Uma redação ruim pode impedir que uma boa pesquisa seja conhecida pela comunidade. Mas, uma boa redação não garantirá a publicação de um artigo oriundo de uma pesquisa com falhas na sua concepção/execução, incoerências em seus fundamentos e/ou inconsistências em seus resultados.
Alerta de spoiler: escrever um termo técnico de forma incorreta ou usar conceitos de maneira inadequada é meio caminho para a recusa do artigo. Afinal, que especialista é você que não conhece a terminologia do seu campo?
Quanto à precisão, expressões como: “é notório que”, “sabe-se que” ou “como indicam as pesquisas” (sem especificar quais pesquisas) passam a impressão de que o pesquisador ficou com preguiça de buscar as informações necessárias para fundamentar seus argumentos e resolveu apelar para formulações genéricas.
Em artigos científicos, os adjetivos e advérbios devem ser usados com moderação. Por exemplo, é inútil dizer que algo é “extremamente relevante”, o que vale é deixar claro porque aquilo é relevante.
No mesmo sentido vão afirmações como: “Fulano tinha uma vida desregrada” que, além de conter um juízo de valor que não cabe ao pesquisador, não diz nada sobre a vida do Fulano. O que precisa ser informado são os aspectos da vida do Fulano que interessam para a análise dos dados.
Então, acostume-se a fazer um exercício de desapego: a cada leitura vá excluindo palavras, frases e até parágrafos que não acrescentam nada ao seu texto.
MARTÍN, E. Ler, escrever e publicar no mundo das ciências sociais. Revista Sociedade e Estado, v. 33, n. 3, p. 941-961, 2018. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/se/v33n3/0102-6992-se-33-03-00941.pdf. Acesso em 06 jul. 2019.
OLIVEIRA, A. G.; SILVEIRA, D. Jogo dos erros: motivos pelos quais um artigo é aceito ou rejeitado pelos periódicos científicos. Infarma: Ciências Farmacêuticas, v. 29, n. 3, p. 179-180, 2017. Disponível em https://www.researchgate.net/publication/320029712_jogo_dos_erros_motivos_pelos_quais_um_artigo_e_aceito_ou_rejeitado_pelos_periodicos_cientificos . Acesso em 01 jun. 2019.
Publicado originalmente em Linkedin em julho de 2019
Crédito da imagem:
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#tcc #dissertação #artigo #ABNT #redaçãocientífica #trabalhosacadêmicos #escritacientífica #redação
A primeira coisa a saber é que existem diversos estilos de escrita científica. Isso depende da área e dos propósitos do texto. Então, aqui, eu vou tratar da escrita de artigos no campo das ciências sociais, embora acredite que este post possa ser interesse geral.
Escrever é uma obrigação acadêmica, não tem como fugir. Uma fase importante da produção do conhecimento é a sua difusão, que pode ser entre os pares, isto é, para outros cientistas (comunicação científica), ou para a sociedade em geral (divulgação científica).
Atualmente, os pesquisadores usam diversos suportes para fazer a divulgação e até mesmo a comunicação científica. No entanto, a forma escrita ainda é predominante.
Apesar disso, as universidades dão pouca importância à preparação dos estudantes para a redação científica. Até mesmo na pós-graduação, são raros os cursos que apresentam uma disciplina ou uma atividade sistemática sobre o assunto (claro, sempre tem uma palestra sobre ABNT, mas, vamos combinar, isso é muito insuficiente).
Na sequência apresento quatro características de um bom artigo científico e algumas dicas para você chegar lá:
1 – Um bom artigo destaca-se pelo conteúdo.
O artigo deve trazer alguma contribuição para o campo de pesquisa: uma nova abordagem; uma metodologia inovadora; resultados que tragam luz ou complemente algum tópico; resultados que contradigam conhecimento anterior ou refutem hipóteses; estado da arte; novos aportes teóricos etc.Mas, que fique claro, não estou afirmando que o artigo deve conter todos esses itens. Uma contribuição, mesmo que pequena, porém, interessante, está ok. Não espere ter aquela ideia genial, que vai revolucionar a ciência, para publicar. Pense na produção do conhecimento científico como uma vaquinha, com a qual cada um contribui com o que pode.
Porém, não se esqueça: para se produzir um bom artigo é necessário que a pesquisa que lhe deu origem tenha sido bem projetada e executada, incluindo aqui, os princípios éticos que devem permear todo o processo de produção do conhecimento.
Uma redação ruim pode impedir que uma boa pesquisa seja conhecida pela comunidade. Mas, uma boa redação não garantirá a publicação de um artigo oriundo de uma pesquisa com falhas na sua concepção/execução, incoerências em seus fundamentos e/ou inconsistências em seus resultados.
2- Um bom artigo é direto e claro.
O texto não precisa e nem deve ser rebuscado. O jargão técnico deve ser usado com precisão e parcimônia. Não se esqueça que, embora você esteja escrevendo para outros pesquisadores, muitos deles podem não ser peritos no assunto, então, seja gentil em explicar os termos mais específicos do seu trabalho.Alerta de spoiler: escrever um termo técnico de forma incorreta ou usar conceitos de maneira inadequada é meio caminho para a recusa do artigo. Afinal, que especialista é você que não conhece a terminologia do seu campo?
Quanto à precisão, expressões como: “é notório que”, “sabe-se que” ou “como indicam as pesquisas” (sem especificar quais pesquisas) passam a impressão de que o pesquisador ficou com preguiça de buscar as informações necessárias para fundamentar seus argumentos e resolveu apelar para formulações genéricas.
Em artigos científicos, os adjetivos e advérbios devem ser usados com moderação. Por exemplo, é inútil dizer que algo é “extremamente relevante”, o que vale é deixar claro porque aquilo é relevante.
No mesmo sentido vão afirmações como: “Fulano tinha uma vida desregrada” que, além de conter um juízo de valor que não cabe ao pesquisador, não diz nada sobre a vida do Fulano. O que precisa ser informado são os aspectos da vida do Fulano que interessam para a análise dos dados.
3 – Ortografia, gramática e estilo importam.
Não interessa qual o seu campo de estudo, se você deseja ser um pesquisador, você terá que se comunicar por escrito (ao menos por enquanto, é assim que as coisas funcionam), então, preocupe-se com a redação de seu artigo. Erros de português trazem descrédito ao autor e dificultam a compreensão do texto.Um manuscrito que não prima pela linguagem científica e apresenta equívocos gramaticais e de estilo, certamente estará em grande desvantagem em relação a outro manuscrito que atenda a esses requisitos (OLIVEIRA; SILVEIRA, p. 180).
4- Concisão é tudo de bom.
Hoje em dia, tempo é um bem precioso, então, um artigo repleto de redundâncias tem grandes chances de ser deixado de lado. Além disso, os próprios periódicos costumam limitar o número de páginas/caracteres.Então, acostume-se a fazer um exercício de desapego: a cada leitura vá excluindo palavras, frases e até parágrafos que não acrescentam nada ao seu texto.
Referências:
JOB, I.; MATTOS, A. M.; TRINDADE, A. Processo de revisão pelos pares: porque são rejeitados os manuscritos submetidos a um periódico científico? Movimento, v. 3, n. 3, p. 35-55. Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/320029712_jogo_dos_erros_motivos_pelos_quais_um_artigo_e_aceito_ou_rejeitado_pelos_periodicos_cientificos. Acesso em 06 jul. 2019.MARTÍN, E. Ler, escrever e publicar no mundo das ciências sociais. Revista Sociedade e Estado, v. 33, n. 3, p. 941-961, 2018. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/se/v33n3/0102-6992-se-33-03-00941.pdf. Acesso em 06 jul. 2019.
OLIVEIRA, A. G.; SILVEIRA, D. Jogo dos erros: motivos pelos quais um artigo é aceito ou rejeitado pelos periódicos científicos. Infarma: Ciências Farmacêuticas, v. 29, n. 3, p. 179-180, 2017. Disponível em https://www.researchgate.net/publication/320029712_jogo_dos_erros_motivos_pelos_quais_um_artigo_e_aceito_ou_rejeitado_pelos_periodicos_cientificos . Acesso em 01 jun. 2019.
Publicado originalmente em Linkedin em julho de 2019
Crédito da imagem:
<a href="https://br.freepik.com/fotos-vetores-gratis/negocio">Negócio vetor criado por iconicbestiary - br.freepik.com</a>
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